FAMÍLIA SAPORETTI

Monday, July 31, 2006

11- O Casamento e os Anos Seguintes

Américo Saporetti Filho
Pinota e pela aparência seus dois irmãos mencionados em capítulo anterior


Em junho de 1902 nascia sem nenhum problema uma linda menina, a alegria eterna de Emílio, que respirou aliviado e pode dizer aos quatro cantos de Ponte Nova e aos céus que era pai e muito feliz.

Os preparativos do casamento correram rápidos e logo Pinota, a exuberante Pinota, passou a assinar Seraphina Lanza Garavini, com direitos em comunhão de bens às alegrias e tristezas que ela daria durante quinze anos a Emílio Garavini.

Emílio adorava Pinota, mulher que , boneca, lhe trouxe o prazer de viver, lhe deu esperança no futuro e força àquele corpanzil de ferro e aço, acostumado ao calor forte da boca do forno, à forja e à bigorna. Ela tão menina tinha uma estrutura de mulher para lhe dar filhos e não morrer. Beatriz, a linda Beatriz, era uma bambina bela, agradável, cheia de vida, e estava ali pequetitinha clamando por ser amada.

Emílio passou a ver tudo pela lente de Pinota e pelos olhinhos, boquinha, bochechas, perninhas, cabelos cacheados, narizinho e pelo jeitinho feliz de quem ia viver a vida com amor da filhinha Beatriz. Emílio rejuvenesceu enquanto durou sua felicidade com Pinota. Era bem um meninão alegre apesar dos cabelos já prateados que tentava artificialmente esconder, e das rugas que envolviam as extremidades dos olhos e cantos da boca, que matreiramente disfarçava com um prolongamento sutil do bigode.

Pinota era sua Dalila, não havia desejo dela que não fosse imediatamente satisfeito pelo coração embevecido do meu enamorado avô. Neste ambiente nasceu em 1904 o querido Antonio Garavini, o tio Toni com quem convivi, ele já cinquentão, e que sabia trazer para o seio de uma conversa tudo de alegre e engraçado que se pode ouvir. Acredito que tenha nascido como todo bebê, peladinho, lambuzadinho, gordinho e com o cabeção que, marca registrada dos Garavini, deu muita alegria e euforia a seu extasiado e bobo pai.

A cada parto a mulher, ainda convalescente, recebia presente de montão por ter dado com tanta galhardia mais um bambino para a família: roupas de gala, jóias várias, colares, braceletes, pingentes, brincos e afins. Quantas vezes Pinota foi até a Capital Federal comprar roupas e outras necessidades pessoais, acompanhada de negras de confiança para os serviços e ajudas na viagem cansativa.

Pinota gostava de ser apreciada e cortejada pelos homens, seja nas festas que frequentavam assìduamente, seja nos gracejos de rua. Recebia os galanteios com a satisfação com que a menina abraça a boneca que acaba de ganhar.

Assim a Pinota correspondeu ao galanteio de um acrobata de circo e desta união secreta nasceu Reinaldo Garavini, em 1907, diferente dos filhos de Emílio, moreno, rosto afilado, porém criado com todo amor por um pai tão zeloso da sua prole como o tico tico ao criar os filhos pretos do chupim. O acrobata era cigano e talvez por isto tio Reinaldo cedo saiu de Ponte Nova e veio para São Paulo tentar a vida e tornar-se milionário. É bom que se diga que naquele tempo os circos ficavam meses numa mesma cidade, e os artistas passavam a fazer parte da vida social do lugar, tendo muitas vezes ido embora levando consigo rapazes e moças do lugarejo que os hospedava.

Pinota, muitos anos depois, vovô Emílio já morto, revelou este fato para sua filha Beatriz, como fato mais natural do mundo, e dando a entender que não fizera nada de errado. Assim foi Pinota, hábil e fútil, bela mas extremamente insegura, amante carinhosa e adúltera premeditada. Talvez as explicações estejam no pai assassino, padrasto insensível e brutal, atuando numa cabecinha em formação e muito carente de carinho e amor. Viu no vovô o pai que não teve e nos amantes uma forma de revidar ao padastro que sempre detestou.

Em 1909 nasciam os gêmeos Emma e Emilédio. Pinota foi acometida de grave crise de anemia em virtude da gravidez difícil e das complicações no parto duplo. Ela que, com o passar dos anos apurava-se num apogeu de graça e charme e encanto, viu-se definhar em processo trágico que poderia ser fatal se não tratado devidamente e com a urgência que o caso requeria. Foi indicada uma viagem de recuperação à Itália em complemento ao tratamento convencional.

Por obra graça e conta do coronel Emílio Garavini, partiram para a Itália Pinota com seus cinco filhos, dona Emma e a dona Seraphina que morria de saudades da terra natal, treze ao todo sem data para voltar.Durou dois anos a estada da caravana em terras italianas. Ao chegarem lá se hospedaram no sítio do tio César do vô, e depois alugaram uma casa na via Rialto em Bologna. Os meninos e as meninas em idade escolar foram para as escolas e conta-se que dona Emma aborreceu-se demais e nunca perdoou seus patrícios italianos que racialmente preconceituosos evitavam seus filhos por terem a cor da pele ligeiramente penumbrada, traço genético do seu Innocencio.

Vô Emílio buscou Pinota e seus filhos em 1911 e aproveitou para rever Bologna e os amigos que já era difícil encontrá-los. Notou mudanças na sua querida Itália e tristemente conscientizou-se que nunca mais encontraria a Itália querida de sua infância.

Já dona Emma permaneceu por mais uns anos na Itália com sua mãe Seraphina, seus filhos e os gêmeos Emma e Emilédio, e só voltou quando o espectro da primeira guerra mundial começou a aparecer nos céus do mundo.

Tremia só de pensar que um de seus filhos pudesse ser convocado. Retornou ao Brasil em 1914. Por esta época Emílio era considerado pessoa nobre, rica, pertencente à alta sociedade pontenovense. Sua fortuna era invejável, pois aplicara em imóveis, possuia várias casas, um armazém de produtos importados e belo ordenado na fundição com participação nos lucros. Não sei se por compra de patente, mas julgo que não, e me parece que estas patentes não eram negociadas com estrangeiros mas sim pelo carinho e respeito do povo humilde, só sei que vô Emílio era alcunhado de Coronel Emílio Garavini.

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