FAMÍLIA SAPORETTI

Monday, October 09, 2006

21 - Nasce Mamãe

Américo Saporetti Filho


Na foto Ginette menina, Bebé, filha de tio Eduardo sentada, e a austeridade da Maria Portuguesa


Alguns anos depois a Maria Portuguesa apareceu na vida de Emílio. De maneira simples e sem pretensões, por um acaso. Um aparecimento, diria, sem maiores consequências.

A Portuguesa trouxera para Ponte Nova uma meninazinha de nome Josephina (mesmo nome da Pinota), conhecida como Zefina, novinha ainda e foram morar atrás da Fundição.

Lá por alguns anos, aquela menina de olhos azuis, gestos meigos e cabelos claros ia e vinha e passava pelos olhos acesos de vovô, que brincava com ela, a pegava no colo e fazia agrados. Até que vovô foi à casa da menina e ficou conhecendo sua mãe oficialmente, na verdade sua mãe de criação. Nasceu então entre eles uma ligação forte; uma ligação que durou até a morte de vovô.

Desta união nasceu mamãe em 11 de setembro de 1921, nome Ginette da Assumpção, mais tarde, em abril de 1938 reconhecida legalmente filha de Emílio e passando a assinar Ginette da Assumpção Garavini. Contam que o nome Ginette veio de um filme famoso na época onde as artistas se chamavam Ginette e Gaby. Só não sei que filme é esse e que artistas são estas. Belíssimas, dizem os da época.

Dona Maria Portuguesa foi mulher rude, severa, sem cultura, simples no vestir. Mulher que ao sair de Espera Feliz para Ponte Nova trouxe, tirando da família verdadeira a menina Zefina, e cometia assim, incontinenti, um dos crimes mais sérios, que é o de separar o filho dos pais. Mas também foi a mulher, amante e companheira, que com seu carinho e dedicação, e com sua fidelidade, deu ao bravo Emílio, quando ele precisava, alento de mulher tão necessário para que o homem levante a cabeça e siga o seu caminho.

Essa mulher controvertida, que criava Zefina com mão de ferro, obrigando-a a tarefas tão vis, e que a marcaram ainda menina para o resto da vida, tais como, debaixo de risadas dos vizinhos, descer a rua da Fundição e ir despejar o grande urinol no rio Piranga, ou levantar antes do sol bem cedo, naquele horário em que o sono é mais tocante e gostoso, para encher d'água os tonéis do uso diário. Foi a mesma mulher que ajudava aos pobres, que era caridosa, piedosa, temente a Deus.

Dona Maria Portuguesa, minha vó materna, faltava-lhe a falangeta do dedo médio da mão direita. Por esta razão tinha-se sempre a impressão que ela estava a costurar, com um dedal preso no dedo.

Quando sua filha, minha mãe, nasceu, vovô estava com 54 anos. A alegria dele foi tamanha que reuniu a italianada toda na Praia no Saltarelli e cantaram e comeram e beberam ao som da rabeca já gasta pelo uso do Venturolli, até altas horas da noite, saudando o grande acontecimento. Começou a voltar o sorriso ao rosto de vovô, e claramente se notava que ele ia esquecendo o mal de amor que quase o corroeu por inteiro. Aí está o grande mérito da dona Maria Portuguesa: Fazer vovô Emílio renascer aos cinquenta e quatro anos, e dar para mim esta pessoa tão fantástica e maravilhosa e bela, sob todos os pontos de vista e ângulos de razão que é minha mãe, que nasce agora nesta história mas que sempre viveu em mim.

Em 1921 Emílio pode encher de alegria seu peito. Aquele batalhador napolitano em terras de América bem que já merecia.

Da sua ligação com dona Maria da Assumpção de Jesus, conhecida Maria Portuguesa, nascia a onze de setembro sua filha Ginette, gordinha, saudável, de parto normalíssimo e o orgulho daquele italiano de cinquenta e cinco anos. A entrada daquela que seria a minha mãe nesta história exige alguns preâmbulos, voltas e meia voltas para que o fio da meada seja encontrado e trançado devidamente.

3 Comments:

  • At 4:41 AM, Anonymous Anonymous said…

    ué. mudou o titulo?

     
  • At 5:07 AM, Blogger alex saporetti said…

    sim, achei melhor, menos pessoal, ao invés de mamãe e papai colocar ginette e américo. vc o q acha?

     
  • At 7:48 AM, Anonymous Anonymous said…

    melhor deixar as palavras 'mamae' e 'papai' dentro do texto mesmo. vi q vc anda sondando com a family, né? tomara...

     

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