FAMÍLIA SAPORETTI

Friday, March 09, 2007

31 - O Estádio da Vila Oliveira

Américo Saporetti Filho



Três fases do Estádio do Pontenovense, sendo que Hugo nunca chegou a ver a última, hoje a "Praça de Esportes Juca Fonseca"

Foi realmente uma epopéia a realização do estádio de futebol do Pontenovense na Vila Oliveira. Obra que exigiu dedicação de dùzias de abnegados, e a participação de toda a comunidade alvi-rubra. Ideal cultivado e acalentado durante anos pelos notáveis da galeria dos baetas natos de papo roxo, num momento de necessidade veio à tona com ímpeto, e levou, a par de sacrifícios magistrais, à consecução de obra tão grandiosa.

Tudo começou com uma briga, melhor, uma discussão acalorada entre Hugo Saporetti, diretor de esportes do PFC com Jaime Marinho durante uma partida de futebol, no campo cedido pelos Marinho dentro da sua propriedade. O PFC vivia de campo de favor.

No decorrer da briga o Jaime pronunciou com toda a empáfia de quem é senhor e dono a seguinte frase com todos os esses e erres: _"O Pontenovense está expulso deste campo. Nunca mais jogará aqui em minha propriedade."

A frase de Jaime foi só de efeito, logo voltou atrás, e com a interferência dos irmãos reconsiderou e se desculpou com Hugo. Assim o PFC continuou com o campo que ele fez, conservava e mantinha dentro da propriedade dos Marinho. Mas a frase de Jaime ficou martelando nos ouvidos e nas consciências dos pontenovenses e serviu para acelerar a construção do próprio estádio de esportes.

Então, pelos 1931, a idéia concretizou-se com a formação da "Sociedade Anonyma Stadium Pontenovense Football Club", cuja finalidade seria construir o estádio do PFC.

Com a venda de cotas e a integralização de capitais, já em novembro de 32 esta associação compraria por dezoito contos de réis, onze mil metros quadrados na Vila Oliveira e daria início assim ao ideal de todo pontenovense da época: ter seu próprio estádio sem depender de terreno de favor e estar sempre sujeito ao humor do dono. Foi um viva geral de regozijo.

Em tempo recorde, menos de dois anos, lá estava plantado, na virgem Vila Oliveira, um campo de futebol do mais alto gabarito e também quadras de vôlei, basquete e tênis. Foi inaugurado com todas as pompas e alegrias que um acontecimento deste calibre requer em 18 de agosto de 1934.

Mais tarde quando eu menino, e Hugo já morto, construiu-se o conjunto aquático, e a praça reinaugurada com o nome de "Praça de Esportes Juca Fonseca", em homenagem a um homem controvertido, mas pontenovense da gema e um dos líderes do movimento que culminou com a concretização da obra.

Recentemente, em 1984, estando em Ponte Nova, fui visitar o estádio de tantas boas recordações da minha juventude e me deu dó ao ver o estado de abandono, atingindo quase as raias da calamidade em que se encontra a Praça de Esportes do Pontenovense. As arquibancadas caindo aos pedaços e o mato invadindo tudo por todos os lados. O campo com grama alta por fazer, e algumas cabritas amarradas em paus fincados no gramado, comiam grama displicentemente, representando o desleixo da diretoria, e talvez da comunidade por todo um passado de luta e de raça, e o desconhecimento de toda uma tradição por quem recebe tudo pronto de mão beijada.

Deu-me pena o que vi. Quando expressei o meu desapontamento, se desculparam afirmando que a enchente de 1979(?), que martirizou a cidade, quase acabou com a Vila (a cidade já se refez dos estragos), e que também a atual diretoria resolveu desativar o departamento de futebol, por se sentir lesada no último campeonato. Assim o PFC não mais tem esportes, e dessa forma a praça está reduzida a ruínas, tanto materiais como das tradições elementares.

Pensei no vovô Hugo, no Dr. Odalino, em Eduardo, Juca Fonseca, Arnaud Rodrigues, Deco, e em todos aqueles que sangraram pelo ideal chamado Pontenovense Futebol Clube: Américo, Odolga, Lili, Daniel e tantos outros, e os vi revirarem-se em seus túmulos.

Não se menospreza e vilipendia desta forma tacanha a tradição conseguida a duras penas, e de valor incalculável. Não se deixa morrer por descaso ou incompetência o que sempre viveu no amor e na convicção de um ideal.

Meu coração ficou do tamanho de uma jabuticaba, fruta muito comum na Vila Oliveira quando lá chegaram os baetas para implantar a obra, ao ver a que nível está reduzido o clube do vô Hugo, dos meus tios, do meu pai, para só falar dos mais chegados. Clube que comecei a amar desde garotinho, ainda acompanhando meu pai aos treinos, aos jogos, e que perdurou e até hoje me vibra nas artérias e veias.

Se a atual geração soubesse ou avaliasse o que de garra, luta, emoções representou o patrimônio que lhe está entregue para administrar, se ela soubesse, não deixaria de reparar um reboco, de pintar uma parede, de recolocar uma maçaneta, de costurar uma bola, de gramar o campo, enfim, de manter a integridade de tudo, que por herança de fibra, está sob suas mãos.

Reagi, geração atual do Pontenovense! Reagi, e para frente, coração baeta! Mãos à obra, pois o tempo é carrasco e sua memória muito fraca. Inspirai na fibra e na vibração que estão por todos os pontos do PFC, esperando ser captadas.

Saravá!

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