FAMÍLIA SAPORETTI

Tuesday, March 13, 2007

33- Emílio Reconhece a Filha

Américo Saporetti Filho

Em 1938, o já velho coronel Emílio, ainda chefe da Oficina Mechanica e Fundição Progresso, resolve em vida dividir a herança entre os filhos: um punhado de casas construidas com sacrifícios e outras adquiridas ao longo de mais de 40 anos de trabalho árduo e dedicação integral a Ponte Nova.

Confidente do pai, o grande Toni Garavini alertou-o para a urgência de reconhecer Ginette como filha legítima, ainda mais agora que ela estava prestes a se casar com Américo. Abriu os olhos do pai para a presteza deste ato, assim regularizando a situação da filha e dando a ela seu nome, coroando com final feliz uma vida até então de constrangimento e traumas. E se ele morresse de um momento para o outro? Já não estava tão novo, idade não lhe faltava e ia além dos setenta.
Assim, em abril de 38, no cartório do sobrinho Cintinho, usando das atribuições que a lei lhe conferia, o forte velho Emílio Garavini declarou e reconheceu em escritura legal que Ginette da Assumpção de Jesus é sua filha e que passaria a assinar daí por diante o seu sobrenome, Ginette da Assumpção Garavini. Estava desta forma caracterizada legalmente a origem daquela bela, airosa moça da sociedade pontenovense.


Tio Toni, seu padrinho, foi quem lhe entregou uma cópia assinada da certidão de reconhecimento. Ginette abraçou-o demoradamente, os olhos cheios de lágrimas. Ninguém desconhecia que Ginette era filha de Emílio, e o pai sempre deu toda assistência e apoio a ela e sua mãe, isto lá é verdade, mas no caso um documento assinado pelo Emílio afirmando tudo, parecia que o sol brilhou com intensidade de uma hora para outra dentro do corpo daquela moça sofrida. À noite numa reunião íntima em casa de Toni e Zefina, o Patriarca anunciou a todos da família o fato ressaltando para que todos ouvissem bem, que agora legalmente Ginette era irmã de todos eles, com os mesmos direitos. Uns esboçaram sorrisos de satisfação, enquanto outros emburraram em desaprovação.

Abraçou demoradamente a filha, e percorreu com os olhos as fisionomias dos outros filhos, e pode ver nelas alegria, decepção, angústia e mistos de sentimentos. Alegria mesmo e entusiasmo só nos rostos de Toni e Zefina.

Dias mais tarde fez a divisão dos seus bens, seu último ato, agora poderia morrer tranquilo. Casas para o Toni, casas para o Emilédio, casas para a Beatriz, casas para o Reinaldo. Também para a Ginette, uma casa grande e dez casas pequenas unidas e ligadas à grande no bairro de Copacabana. Ginette com sua mãe já moravam na casa grande. Com a soma do aluguel das casinhas, mamãe e vó Portuguesa poderiam dali para a frente viver modestamente. Mas Ginette tinha outros planos para a sua vida. Estava apaixonada pelo cunhado da irmã Beatriz, e já se falava em casamento para o fim do ano.

Tanto que em maio deixou o ateliê de dona Alice ainda crua em corte e costura, e começou a dedicar-se toda inteirinha ao seu enxoval. E foi ele que distraiu a sua existência de moça recém-chegada à formação, e foi ele que lhe deu satisfação e prazer naqueles seis meses que antecediam seu casamento, marcado para dezembro.

Emílio, agora legalmente pai, a ajudou em tudo e a paparicou como um avô à neta mais nova. Ginette gostava disso tudo, do casamento que se aproximava e do pai, agora realmente seu, sem subterfúgios. Por várias vezes perdia-se em divagações e sentia um vazio a assinar seu novo nome, Ginette Garavini, e pensava no nome que breve teria, Ginette Garavini Saporetti.

Muitas mudanças num espaço de tempo reduzido, devem ter colocado em parafuso a cabeça daquela filha natural do velho imigrante italiano, Emílio Garavini.

0 Comments:

Post a Comment

<< Home

 
how to add a hit counter to a website